Revisando meus arquivos descobri por acaso uma reportagem do ex-colega de faculdade Janderson Correia. Infelizmente ele optou por abandonar o jornalismo e partiu para Comunicações Visuais. Na final de 2007, ele tratava de uma forma crítica, a qualidade de cursos de jornalismo em áreas semi-rurais. Queria mostrar a sociedade a viabilidade do curso e desmistificar que jornalismo só se faz em ambientes “urbanos” das grandes cidades. O curso de jornalismo de Alto Araguaia ainda está em desenvolvimento, mas já produz frutos. Estamos com seis turmas. No III simpósio de jornalismo (regionalização Midiática). Produzimos dois jornais laboratórios: o ProvocAção e o jornal mural O paredão.
Pato seqüestrado, furto de bicicleta, curso para fazer pastel,... Notícias pitorescas ou banais parecem ser as únicas informações possíveis em cidades pequenas quando o assunto é jornalismo. Muitas pessoas costumam relacionar a profissão de jornalista com os grandes centros urbanos. Lá, onde o mundo faz e acontece. Com tantos acontecimentos são considerados verdadeiras fontes da matéria prima do trabalho jornalístico: a informação. Essa idéia torna difícil imaginar um curso de jornalismo feito no interior, em áreas semi-rurais. Onde o tempo parece ter vontade própria e resiste ao ritmo do mundo globalizado.
Uma das justificativas para a cidade receber o novo curso é devido à sua localização estratégica: na confluência dos estados de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, facilitando o acesso às vagas para cidades dos três estados.
Alto Araguaia parece ter uma enorme vontade de produzir informação. A cidade possui duas rádios (AM e FM), uma televisão com uma hora e meia de programação local e um site sobre acontecimentos locais. Tem ainda a sala de imprensa da Câmara Municipal de Vereadores, com sistema de radio e TV para transmissão integral das sessões à população. Pode-se somar a isso o apoio da prefeitura para a implantação do curso de jornalismo na cidade, que cobriu os gastos dos primeiros seis meses.
O curso de jornalismo de Alto Araguaia é o primeiro da Unemat e o segundo oferecido gratuitamente no estado. Atualmente está indo para o quinto semestre com 148 alunos em situação regular. O corpo docente é formado por cinco professores mestres, um doutor e um doutorando, vindos dos estados de São Paulo, Paraná, Espírito Santo e do próprio Mato Grosso. O processo de reconhecimento do curso está em andamento e já concluiu etapas importantes. Como a realização do 1º Colóquio de Jornalismo – A formação sob o olhar sincrônico realizado em julho deste ano para discutir a identidade do curso e o mercado de trabalho na região.
O projeto pedagógico do curso foi elaborado não só para uma formação global, mas para formar jornalistas que produzam conteúdo com a voz local. Temas regionais na grade curricular e disciplinas práticas de jornalismo especializado, como turismo, meio ambiente e jornalismo rural, demonstram essa preocupação. Para Wedencley Alves, um dos responsáveis pelo projeto, a proposta foi "montar um curso que viria a formar alunos que não desempenhassem o papel de pura correia de transmissão dos modelos do Centro-Sul urbano, fonte de estereótipos tolos".
A globalização não permite mais considerar a redação o único local de trabalho do jornalista. As novas tecnologias possibilitam novas áreas de atuação para o comunicador social. Além disso, um curso de jornalismo se torna viável em cidades como Alto Araguaia por causa da diminuição dos preços dos equipamentos digitais. O custo para a montagem de um estúdio de TV, por exemplo, está mais acessível. Assim como o preço de uma câmera filmadora ou fotográfica está mais em conta a um jornalista free lancer.
Com a internet surgiu a produção on line, que descentralizou a produção de conteúdos deixando no passado os centros produtores. A distância não é mais um obstáculo para o jornalista. Agora uma informação é facilmente produzida de qualquer parte do mundo para qualquer lugar.
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