terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A força substituída pelo poder

A língua com seu dinamismo evoluiu ao longo da história e as palavras tomaram novos significados, Gabriel Cohn em seu livro Indiferença, Nova Forma de Barbárie chama nossa atenção para palavras que passaram por essa transformação segundo novos contextos sociais. De acordo com ele a indiferença é a nova Barbárie. Sua tese é que existe um grande sistema econômico estimulando o consumo, o qual é controlado por um pequeno grupo, que age de forma insensível e hostil, alienando a grande maioria da população que fica a sua mercê.

Nesta visão de Cohn, podemos incluir a mídia como mais um campo de barbárie, ela se esconde atrás de ideais de neutralidade e objetividade, contudo implicitamente está carregada de conteúdos ideológicos. A noticia é veiculada de tal forma que o público é desviado da atividade de pensar, levado a aceitar as idéias feitas como se elas fossem algo que não são. A difusão das informações em massa é atribuída a temas superficiais que tentam agradar a todos com o intuito de prender a atenção do espectador e aumentar os índices de audiência. A mídia não manipula só pelo que transmite, mas, sobretudo pelo que omite. Ela é uma espécie de monopólio de fato sobre a formação do pensamento de uma parcela muito importante da população. Ora, ao insistir nas variedades, preenchendo esse tempo raro com o vazio, com nada ou quase nada, afastam-se as informações pertinentes que deveria possuir o cidadão para exercer seus direitos democráticos.

A barbárie da força bruta foi substituída pela do poder. O desejado papel persuasivo, a independência, a “imparcialidade” e o próprio caráter investigativo da imprensa lhe adjetivou o status de “quarto poder”. É claro que o adjetivo é inadequado, pois pela sua desejável independência e liberdade de opinião, jamais poderia ser entendida como tal, mas, no mundo contemporâneo, especialmente pela atual velocidade de circulação das informações, sua capacidade de formar a materialização dos fatos, bem como a sua penetração e formação de opinião junto à sociedade, lhe dá características de poder, influência e, não raro, de algum abuso no exercício de suas prerrogativas.

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