segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A cara nova da velha pirataria


Por: Gutemberg Bezerra; Ivon Ribeiro e Jairo Plateiro.

No início do século XX, piratas cruzavam os mares com a finalidade de saquear navios e cidades para conquistarem fortunas. Com interesse em tudo que pudesse gerar lucro fácil, atuavam em rotas comerciais e muitas vezes, faziam reféns para pedirem resgates.

No século XXI, os mares ainda servem como rotas para o crime, pelo difícil controle das águas. Entretanto, mesmo sem o tapa olho, papagaio e caveira, símbolos da pirataria, ela atingiu grandes proporções em diversos segmentos da indústria de bens de consumo: mídias, roupas, calçados, brinquedos, bebidas e remédios são vendidos principalmente no mercado informal.

“Se não estivesse trabalhando aqui, provavelmente estaria em casa, fazendo nada!”, a afirmação é de G. C. P., 16 anos, estudante da 8ª série na Escola Estadual Carlos Hugney. Há cinco anos funcionário de uma locadora em Santa Rita do Araguaia – GO. Assim como para ele, o mercado informal gera milhões de empregos em todo o país.

Thiago Garcia Damasceno, 30 anos, delegado, afirma que “Defender direitos autorais, é a menor das preocupações da Polícia Civil. Às vezes as pessoas não enxergam tão longe. O crime não é só o simples fato de vender CDs e DVDs piratas, tem uma ramificação muito maior, nisso estão envolvidas grandes quadrilhas, crime organizado. Depois a gente vê nossas famílias violentadas por quadrilhas e não entende que indiretamente nós estamos sustentando isso! Um filho que consome drogas, o comprador de DVDs e CDs piratas sustentam essas quadrilhas.”

A mídia da maior destaque a penetração de discos piratas no comércio, entretanto, não é no mercado fonográfico que a pirataria provoca maior estrago. No segmento farmacêutico, além do prejuízo comercial, a questão atinge a saúde do consumidor, podendo levá-lo à problemas mais graves, e conseqüentemente a morte. Em um fórum realizado pela Pfizer (maior fabricante de remédios do mundo) e pelo diário econômico de Portugal, apresentaram números sobre falsificação de medicamentos, garantindo que 10% dos remédios que circulam em todo o mundo são falsos, e metade destes vendidos através da Internet.

Mas esta é apenas a ponta do problema, sua dimensão tem maior profundidade e complexidades específicas em cada área. A falsificação de remédios, segundo Damasceno: “É um crime totalmente diferente, muito mais grave, um crime hediondo, contra a saúde pública, que lesam muito mais pessoas do que a comercialização de CDs e DVDs piratas.”

Com 60 anos de profissão, Alfredo Silva, 75, afirma que o problema é mais antigo do que se pode imaginar “Faz tempo que começou... desde que começou a farmácia! Quando nós manipulávamos, aquele eu tinha certeza do que tinha lá dentro. Agora!?”

Nenhum comentário: